INTRODUÇÃO
Andamos à procura de um Homem, em vão. O Homem pós-moderno não quer morrer para consumir para sempre, mas também não quer viver, porque não tem Eternidade por que viver. Inspirado nas grandes metrópoles de hoje, o Homem tem mimetizado o betão armado, cinzento, estático, parado. Enquanto o betão é duro de quebrar, o Homem pós-moderno, não cumprindo o que lhe cabe realizar, na melhor das hipóteses será um bocado de areia semi-sedimentada que, mal lhe seja aplicada pressão, se desfaz no vento. Não há causa, não há propósito, não há finalidade, não há mito. Por isso, caso o Homem quisesse viver para sempre, não teria maneira de se libertar da Morte e de se eternizar no Panteão dos Heróis ou no Céu dos Santos. O Homem vive para morrer, e morre para viver, porque todo o ser tem uma finalidade. A finalidade é a razão do movimento, é o antídoto contra a razão estática. O Homem move-se, corre, desbrava, embarca, e mal encontre um obstáculo ao seu movimento, dinamiza-se de novo. Mas ele não é forte o suficiente para viver sozinho e para viver para si: este é o enigma do Homem. Frustrado pelo taedium vitae, o Homem decide saciar-se e ir em demanda de reconhecimento e de Glória. O Homem atinge a felicidade pelo ideal comunitário. O Homem busca aproveitar o dom divino que lhe fora atribuído no Princípio: o dom de criar. Mas hoje não há poder criador, não há Ideal, não há Glória. Cabe-nos realizar a obra prometaica de roubar ao Reino do Esquecimento a virtude que nos foi dada por eleição entre as Criaturas, o nosso lugar no Mito, o nosso lugar central na História. Entre os avanços da tecnociência, os optimismos socioeconómicos do Neoliberalismo, as éticas sem Metafísica, os reducionismos históricos à volta da classe, as teorias jurídicas sem Justiça, o discurso sem conteúdo, o Homem vive em inautenticidade, num obscurecimento neurótico, uma descensão vertiginosa para o Infra-Homem. Para isso, negámos a Pós-modernidade para afirmarmos o Futuro, hostilmente contra tudo, hostilmente contra todos.
Por isso, o Homem criativo e de peito é o Homem hostil, e ser hostil é opor-se aos falsos profetas, aos falsos deuses, aos templos onde a liberdade, a igualdade e a fraternidade são adoradas, repetidas em litania por beatos iluminados, sob as estolas de uma agenda que não vê senão vislumbres utópicos de um Homem universal, igual em todo o tempo, igual em todo o lugar, um Homem mutilado, parcelar, falso, individualista. O establishment tem todo interesse em teimar pelos universalismos, globalismos e igualitarismos totalitários, em corroer a autoridade moral do Estado, em vilipendiar a nossa História, em minar toda a tentativa de nos organizarmos colectivamente enquanto Portugueses ou Europeus contra as ameaças à nossa existência e ao futuro das nossas crianças. Não havendo lugar para a natural diferença, o situado e o específico sob a hegemonia liberal, então deixa de haver sociedades, comunidades e, por seu turno, identidades: enfim, o Homem deixa de existir.
Matámos Deus para agora matarmos o próprio Homem. O Homem pós-moderno é apenas uma caricatura do Homem, caricatura cómica, trágico-cómica: uma vez glorioso, caminha para o suicídio colectivo. E se Deus criou o Homem à sua semelhança, e o Homem se revoltou contra Ele, agora as criações do Homem, feitas à sua parecença, revoltam-se contra ele. Até agora o Homem não mostrou vigor suficiente para termos uma previsão de vitória no futuro: a Máquina está a vencer. Somos vítimas da nossa tolerância, da nossa abertura, da nossa magnanimidade. Nós, Portugueses, somos Povo acolhedor, como também o são em grau variado os restantes países da Europa, mas melhor do que ser acolhedor ou do que ser tolerante é dar-se ao respeito: respeito perante os outros, respeito perante si mesmo, ser justo perante todos e a sua situação. Corremos o risco de encher o porão até às escotilhas e afundar o barco, e serão aqueles que têm beneficiado da nossa magnanimidade que rirão com orgulho, desprezo e rancor a morte da Europa. Ninguém nos vai dar a mão para nos erguermos, porque todos ganham com o nosso fracasso. Continuamos a ser senhores do nosso Destino, para o bem e para o mal.
O Homem precisa do seu Dilúvio, porque é preciso colocar a Técnica no seu lugar de instrumento, e reconquistar a nossa autonomia e Liberdade, como senhores da Terra; porque é preciso reconquistar o nosso direito de sermos independentes enquanto Pátria pelo triunfo do dever de criar cultura, alta cultura, cultura nova, autónoma, orgânica, genuína, e não estrangeirada ou americanizada; porque é preciso recuperar uma ideia de finalidade espiritual e metafísica de um Povo; porque é preciso voltar ao universal concreto; porque é preciso conceber colectiva e socialmente o Homem; porque é preciso compreender a Tradição como dialéctica entre a conservação e a inovação, a permanência e a continuidade, de um património passado que se presentifica e se futuriza; porque é preciso mostrar que o arcaico, o arcano, o arquetípico, o arqueológico têm mais de futuro do que a Pós-modernidade; porque é preciso destruir os ídolos desta religião global, os ídolos do igualitarismo, do globalismo, da tecnociência, da tolerância, do progresso, do materialismo, da usura; porque é preciso combater a estaticidade dos reaccionários e o lirismo ingénuo dos passadistas e nostálgicos. Estes são os nossos obstáculos: dinamizemo-nos, empunhemos o martelo e quebremo-los. A quintessência de um movimento hostil, renovador e dinâmico está em afirmar o Homem como ser espiritual, ser religioso, ser mítico, ser político, ser estético, ser criativo: enfim, como ser pátrio.
Como resposta dos Jovens que procuram o seu Destino, sob a Luz Natural da Providência, apresentamos os oito pontos de sã doutrina da Acção HOSTIL:
I. METAFÍSICA DA HISTÓRIA.
Contra o materialismo histórico e o determinismo, professamos:
A História Universal é regida pela Providência, para a qual o Homem cumpre o fim espiritual que lhe cabe realizar. Embora possamos reflectir logicamente sobre a sua fenomenologia, é um abuso pensar que podemos apreender total e racionalmente a Providência. A Providência é misteriosa no seu seio. A História apresenta dinâmicas cíclicas e lineares, através das quais surge a síntese superadora desembocada na figura da espiral. A História Universal é espiralar. Defendemos que a História é uma luta do Homem em função da sua perfectibilidade, através do Mito e da Revolta. A Revolta é o momento em que o Homem procura voltar à sua pureza genesíaca.
O Homem, por ser ser-em-movimento, tal como qualquer ser, necessita de uma teleologia. Sem uma doutrina dos fins ou uma doutrina teleológica, o Homem está fadado a morrer no esquecimento, para si, para os outros e para a Eternidade. As suas finalidades universais são sempre actualizadas segundo a sua situação particular: a sua sociedade – a Pátria.
II. UBI HOMO, IBI SOCIETAS.
Contra o individualismo e o colectivismo materialistas, professamos:
A Sociedade é imanente ao Homem. Onde haja Homem, haverá Sociedade. O Homem, para ser Homem, isto é, para actualizar a sua potencialidade enquanto Homem, necessita da Sociedade. A Sociedade, que é potencial e imanente ao Homem, pode compreender-se como todo um património público, desde a língua até à moralidade, passando pela racionalidade e a cultura. Isto é o que difere o Homem da besta: ser social.
O individualismo e o colectivismo pecam pelo mesmo: um isola o Homem e outro massifica-o. O erro está em descartar a sua existência espiritual na Sociedade. A medida de participação entre a Sociedade e o Homem reside num vínculo mútuo espiritual, no qual a Sociedade e o Estado incutem ao Homem uma cultura, uma língua, um conjunto de regras de conduta, e o Homem procura transformar o Estado e a Sociedade.
Como é inocente falar em Liberdade num estado animalesco de natureza! Só se pode falar em Liberdade dentro da Sociedade, porque só através da existência de regras de conduta e da educação espiritual e cultural é que o Homem potencial se pode tornar Homem actual e se pode dizer livre. Porque a sociedade é imanente ao Homem, as regras de conduta sociais são as regras de conduta pessoais do Homem. Na adesão à lei, o Homem liberta-se enquanto tal. A Sociedade é a concretização da Liberdade!
Na mesma senda, o Estado é o garante da sociedade e do desenvolvimento pleno e livre do Homem. Na elaboração de regras de conduta, na implementação de uma educação socializada e na perpetuação de uma Tradição, o Homem actualiza o projecto de Estado potencial imanente em si. O Homem, ao submeter-se à lei, internaliza-a, tomando-a como sua, de modo que todo o Estado seja internalizado no Homem, como o Estado toma o Homem e o concebe colectivamente. O Estado, tal como o Homem, não pode ser compreendido somente pela sua dimensão material e empírica. Em última análise, o Estado é espiritual.
Deste modo, o Estado é a vontade geral da Sociedade ou a vontade do Homem desprovido de interesses particulares. Esta vontade geral da Sociedade toma depois – e somente depois – determinados instrumentos para a sua concretização política e social. Apesar das tentativas de dissolução e de sedição, foi da irresistível Providência que concebemos a obra do Estado. O Estado é obra e instrumento da Providência!
A teleologia da vida comum está na mútua imanentização entre os Homens, a Sociedade e o Estado, manifestando-se numa permanência na continuidade, a que podemos chamar de Tradição, que constitui uma consciência transcendental compartilhada.
III. PARA A ALÉM DA RAZÃO.
Contra o totalitarismo sistematizador e redutor da Razão absolutista, professamos:
A compreensão integral do Homem tem de o admitir enquanto ser dotado de corpo e de alma, integrado numa sociedade e num Estado, sujeito falante de uma língua, fiel depositário de uma consciência transcendental compartilhada e munido de um inconsciente pessoal e colectivo. A razão nunca é rigorosamente pura. Só poderá ser pura na medida em que ela mesma for compreendida como em relação com a intuição, a comoção e a revelação.
A falta de concordância absoluta entre as categorias do ser e as categorias do conhecimento prova a irredutibilidade do real e do absoluto e a abissalidade do ser. A experiência mística prova que o Homem experimenta o objecto sem que o seja de modo lógico. A aporia não é razão para entregar tudo à razão, mas é o sentido pelo qual devemos admitir a sua falha. O conhecimento humano não seria profícuo sem a dialéctica surgida entre a racionalidade e os conteúdos da fé. A experiência do Homem é integral – mente, alma, corpo – em que a religiosidade está sempre presente. A razão sem fé é a razão do suicídio!
IV. PORTUGAL: NAÇÃO MILENAR DA EUROPA.
Contra os reducionismos históricos e o estrangeirismo, professamos:
Portugal não nasceu em 1143, ou 1139, ou 1128. Portugal não nasce por oposição a Castela, nem por anuência da mesma, nem muito menos por bula papal. Portugal é muito maior que um bocado de papel, emitido por longínquos aparelhos burocráticos…
Portugal é esse enigmático Povo Megalítico Atlântico que construía autênticos templos ao ar livre, de rochas gigantes e espantosas, por aqui, em terras ocidentais, onde a vastidão do mar e a vontade da terra propiciaram a sede do Eterno e da Imortalidade. Portugal foi Viriato, símbolo de resistência contra o imperialismo de Roma! Portugal é o jovem infante – D. Afonso Henriques – que rompera com sua mãe – mãe verdadeira, progenitora, do seu sangue – para dar à fiel gente portucalense um Reino para a posteridade. Portugal é Santo António, o nosso Doutor e Martelo dos Hereges! Portugal é o Rei-Poeta – D. Dinis –, visionário religioso e espiritual, herói gibelino, que mandara plantar o Pinhal de Leiria, matéria-prima das futuras naus, e que criaria, com sua mulher Rainha Santa Isabel, as Festas da Coroação do Imperador do Espírito Santo, momento evocativo de um Paraíso reencontrado, reavido, revivido, onde o Evangelho é possível neste Mundo. Portugal é o temerário Mestre de Avis que, juntamente com João das Regras, jurista justo e astuto, e São Nuno de Santa Maria, cavaleiro do ideal beneditino, templário, Galaaz português, rompeu com a ameaça à nossa soberania, frustrando os planos imperialistas de Castela. Portugal é essa Ínclita Geração, de que nasce Infante D. Henrique, e de que surge toda esse maravilhoso movimento rumo ao Mar indesbravável, Mar ignoto, toda essa estupenda máquina de fazer marinheiros além-homens, que destruíram e enterraram o Adamastor de boca negra, que deram novos mundos ao Mundo, que dilataram a Fé e o Império, que tudo fizeram além do que poderia compreender o mero homem…! Portugal é Vasco da Gama, a quem foi dado a conhecer a Máquina do Mundo por Tétis! Portugal é Bandarra, nosso profeta! Portugal é Camões, nosso Vate! Portugal é D. Sebastião, símbolo do jovem desejo de reconhecimento e de Glória! Portugal é D. João IV, em quem vemos a irresistível independência concedida pela Providência! Portugal é Padre António Vieira, sacerdote de grande visão! Portugal é Fátima, na sua vocação mariana! Portugal são os tantos que passaram por perigos, que sofreram pelo árduo trabalho, que deram – por pura e simples obediência – a sua vida pela Pátria, que se entregaram – sem reclamar – às suas famílias, e os tantos anónimos da vida quotidiana.
Estes são os nossos mitos, os nossos heróis. Com o maior entusiasmo deveremos falar deles, sempre com uma saudade do futuro! Portugal, por ter sido tanto, será muito, muito mais no Futuro, porque somente a Portugal o Mundo tudo deve, e somente a Portugal seremos devotos, pela consumação da História na Vontade da Providência!
V. MULTIPORALIDADE, EUROPA & CIVILIZAÇÃO.
Contra a unipolaridade americano-sionista, professamos:
Embora não possamos separar a Nação de uma noção de Pátria, uma vez que ela é a comunidade em que se constitui uma Pátria, no seu património imaterial, não podemos igualmente rejeitar uma ideia de internacionalismo, mesmo assumindo uma posição patriótica e nacionalista. O internacionalismo pressupõe a existência de partes que assumam coordenadamente a resolução de problemas que exigem, pela sua magnitude, uma acção conjunta: essas partes são, obviamente, as Nações. O erro está em igualar internacionalismo e globalismo.
O globalismo, deste modo, procura fazer tábua rasa de todas as Pátrias e de todos os espaços civilizacionais, sob a égide de uma visão axiológica unitária e redutora, que toma como ponto de partida uma noção universal de Homem. Ora, o Homem não é igual em todo o lado, nem em todo o tempo, pelo que não há um Homem universal, mas vários Homens que existem concretamente nas respectivas Pátrias. Grande parte dos problemas do Mundo Moderno passa pela tentativa de exportação da Democracia liberal e pragmatista, putativamente “meritocrática”, arquetipificada nos Estados Unidos da América, com o fim de a aplicar sem ter em conta as especificidades de cada cultura e de cada Civilização. Esta exportação nunca foi no melhor interesse dos Povos, mas sim no interesse do império hegemónico americanista e capitalista, conjuntamente com a grande influência do lóbi sionista.
Se, por um lado, temos necessidade de nos distanciar da cínica “exportação da Democracia” perpetrada pelo imperialismo americano, e, por outro, temos problemas que exigem uma resolução conjunta entre as Nações, Portugal tem de se voltar à Europa e procurar soluções com os demais países do seu continente. A Europa, enquanto espaço civilizacional geopolítico, não deve ser absolutizada, porque a Europa só é compreendida pelo prisma de cada Pátria. Porém, a imigração massiva, a substituição populacional e a provocação do meio natural são questões gravíssimas que afligem toda a Europa e que exigem a participação activa de Portugal, a fim de preservar a identidade étnico-cultural e património ecológico de todos os Povos Europeus. Quanto aos outros polos geopolíticos, é do interesse destes uma Europa coesa que também lute contra o unipolarismo americano-sionista.
VI. A TRADIÇÃO CONTRA A REAÇÃO.
Contra o conservadorismo imobilizador e o progressismo destruidor, professamos:
Podemos – sim – prestar reverência a quem deu a vida por nós e pela Pátria! Temos em nós os instrumentos necessários a salvaguardar a honra da nossa História e a recuperar o dinamismo criacionista da nossa cultura, que, pelos estaticismos imobilizadores e os progressismos destruidores, está nas ruas da amargura.
A Pós-Modernidade caracteriza-se pela sua crença cega, pela seu zelo religioso e dogmático no progresso. O progresso – está aqui o problema – é, afinal, nada. Que é o progresso? Pergunte-se aos proselitistas de que se fala. No fundo, a fé no progresso é a forma de dar aos homens uma ideia de movimento sem que haja uma teleologia clara e coerente. O progresso é um caminhar sem rumo. A Pós-Modernidade é também um lugar onde se aceita acriticamente uma ideia universal de igualdade. Que é isso da igualdade? Que Homem é esse que é igual em todo o tempo e todo o lugar? Nem o Homem empírico pode ser igual, quanto mais o Homem social e político, o Homem actual e verdadeiro! A Pós-Modernidade é o tempo da tolerância. A tolerância, a par das irmãs progresso e igualdade, não é nada. Quando muito, será a maneira de o Homem pós-moderno, em aparências de tolerância, disfarçar a sua profunda arrogância e desinteresse pelo Outro. A tolerância é sentimento acrítico e desinteressado, ausência no abismo perante o Outro.
A Tradição, por outro lado, é a permanência na continuidade histórica, linguística, e cultural, um património identitário, a marca de um povo e do seu modo de viver, de ser e de estar no Mundo. Ela não deve ser compreendida como conservadorismo, que rejeitamos tanto quanto negamos o progressismo. Tanto um como outro são estáticos, reaccionários, porque um prefere ficar no passado mais longínquo, e outro prefere manter-se num modelo sociopolítico, económico e científico do século XVIII ou XIX, ou seja, um mundo menos longínquo! Por isso, afirmamos a Tradição, contra o progressismo, o igualitarismo e a toleranciazinha totalitária. Saudosos, lembrando o Passado, fazendo-nos presentes, ansiando o Futuro, pela univocidade da cultura e da educação em torno da teleologia da Pátria – uma Païdeia! Isto é a Tradição como o Espírito Português a concebeu.
VII. PATRIOTISMO ECOLÓGICO & A TÉCNICA.
Contra a tecnociência, professamos:
Que lugar demos à Técnica neste mundo pós-moderno? Que alteração adamastorina tomou lugar nas mais recentes revoluções dos métodos de produção? Serão realmente métodos de produção, ou métodos de provocação? As florestas, as águas, as montanhas, os animais, a natureza como um todo orgânico, vivo e equilibrado são – do valor que demos à Técnica – meros objectos da nossa provocação, os quais intimamos para deles retirarmos matéria-prima e energia a serem armazenadas. Em vez de criarmos e de produzirmos, no sentido mais pleno possível de criar, provocamos e destruímos em função do lucro, porque, afinal, a floresta não é património inviolável, não é onde reside um certo espírito do lugar, indispensável na formação do nosso modo de estar enquanto Portugueses, mas um bem fungível, como outro qualquer. Esta ilusão de fungibilidade que surge em todas as coisas é consequência do lugar que atribuímos à Técnica, ao progresso e à igualdade, num obscurecimento total do Ser, em que o Ser, na sua essência, é olvidado, morto nos nossos corações.
Um crime contra o património ecológico, seja pelo que for, especialmente pela exploração antiética dos recursos naturais, é tão grave e tão desonrado como um crime de lesa-Pátria. A Mátria, dimensão terrantesa do nosso espírito do lugar, é o nosso lar, a nossa casa ancestral, por onde os Povos Atlânticos Megalíticos, Viriato, D. Afonso I, e todos aqueles extraordinários homens passaram. Parte do seu génio está na santidade da paisagem natural. Quanto mais frustrarmos o decurso dos ecossistemas, mais sofreremos a longo prazo. A Finisterra Ocidental, no seu Mar e Terra, é totalmente sagrada, na verdura dos seus pinhais e no azulão do seu Atlântico!
VIII. ARTE: DESCOBERTA & REVELAÇÃO.
Contra os reducionismos cousificantes da Arte, professamos:
A Arte é também movimento, e todo o movimento tem uma finalidade. A Arte é a descoberta dos enigmas e dos mistérios do Homem, da Natureza e do Numenal. A Arte não é somente a representação do Real, ou apenas a forma, e muito menos será a mera expressão dos sentimentos do Autor. A Arte, eminentemente simbólica, veicula o Mundo Cósmico, pela qual o Homem exterioriza o seu modo de estar e de ser, se revolta contra a estaticidade, a feiura, a maldade do Mundo, e representa os seus maiores anseios de retorno e de futurização, pelo Bom, o Belo e o Justo genesíacos e incorruptos. A Arte é a depositária e transmissora de um Espírito do Tempo próprio. Mas toda esta finalidade da Arte implica a maior disponibilidade do Homem, que, quanto maior, mais o torna activo e receptivo perante a descoberta e a revelação. É através da Arte que o Homem actualiza o movimento trans-histórico e providencial da Humanidade pela representação simbólica do potencial, do actual e do mítico, procurando uma unidade histórica do Tempo, certamente tênsil, em direcção à descoberta dos seus enigmas e mistérios e à revelação da Verdade.