Vários são os sistemas políticos que têm vindo a ser desenvolvidos nos últimos séculos, mais concretamente desde a Revolução Francesa e da consequente criação do conceito de Estado-Nação. A partir desse marco histórico, surgiram as mais variadas doutrinas, desde o nacionalismo até às primeiras correntes socialistas, passando pelo monarquismo constitucional. Todas essas alternativas foram influenciadas pelas correntes liberais francesas, com o objetivo de evitar qualquer regime absolutista.

No entanto, podemos constatar que nenhuma dessas doutrinas foi suficiente para posicionar adequadamente o indivíduo no âmago da política. Além disso, nenhuma delas tem sabido responder com a eficácia necessária à questão de como a política e o ser-político se devem corresponder. Vejamos: a época à qual chegámos composta dos mais banais apetrechos comporta em si uma narrativa meramente pós-fundacionalista que tende a enfraquecer qualquer status ontológico-político. Os movimentos políticos contemporâneos estão limitados pela impossibilidade extrema de um fundamento final, resultando em sistemas que operam com base em meros reducionismos. Essa abordagem tende a confinar o indivíduo a uma esfera estritamente socioeconómica, materialista e fisicalista.

Existem diversas teorias destinadas a justificar o fenómeno da crise que se instalou. No âmbito da Metapolítica que tento desenvolver, a minha abordagem centra-se na perceção de uma crise tão profundamente enraizada que toca o domínio metafísico. A política, na minha perspetiva, já não reflete o elemento espiritual; foi devorada por um niilismo atroz que confere ao indivíduo apenas a certeza inabalável da irreversibilidade de uma origem autêntica. Com isso, desvincula-se de toda e qualquer possibilidade de estabelecer um esquema teleológico honesto e sério, não conseguindo, em momento algum, retirar o indivíduo do âmbito exclusivo da matéria densa. Este é o resultado da política meramente secular que nos tem orientado a todos para uma natureza não redimida e estritamente viciosa, de devir, encerrando-nos na ilusão de samsara que engloba todas as formas do mundo inferior. Na minha visão, não crítica, mas antes trágica, não temos mais como nos evadir da esfera de Malkuth, a matéria densa, a menos que reencontremos em nós mesmos a energia espiritual que nos permita assumir a decisão radical de nos desvincularmos da superficialidade, do mercado de consumo que cresce à mercê do vício e do deterioramento da virtude (ἀρετή), e o nosso intelecto possa se direcionar para Niratisaya (o infinito).

Abordando questões mais concretas e, após uma análise muito resumida da decadência da componente política, torna-se urgente estruturar uma nova conceção que conduza todos os agentes políticos a uma instância que transcenda as componentes práticas imediatas, descartando temporariamente o campo ideológico no Estado e a ideologia de Governo. A ideia é concentrar o foco na ideologia de Estado. Num primeiro momento, e sob um olhar menos sério, pode parecer um revivalismo de correntes provenientes do início do século passado, associadas a situações dos Estados fascistas, nacional-socialistas, soviéticos (URSS), comunistas. No entanto, a essência desta nova conceção não passa por aí. Daqueles movimentos, o que há a aproveitar é a interpretação de um determinado Estado de monismo absoluto, onde o indivíduo se funde com o mesmo através da sua participação ativa, política e intelectual. Agora, para edificar esta nova “superestrutura”, cuja elaboração jurídico-política se sustente sobre uma base metafísica e ontológica, é necessário construir uma nova cosmogonia. A formulação católica romana não tem mais como nos tirar deste lodo; aliás, ela própria tratou de espezinhar as nossas necessidades espirituais ao longo dos últimos séculos e, indo de acordo com o pensamento tanto de Heidegger quanto de Nietzsche, foi um dos motores para a história do niilismo na Europa.

Quando menciono a criação de um novo mito que narre a origem de uma pressuposição, estruturando assim um mito cosmogónico que reposicione o Homem, refiro-me a algo que lhe ofereça uma componente espiritual, alinhando-o com as forças superiores para resgatá-lo da obscuridade do Ser. Falo na importância de recriar simbolicamente o mundo, conferindo à vida de cada indivíduo e ao âmbito ôntico-político um elemento ritualístico e simbólico. Isso certamente se erguerá sobre as ruínas da depravação do consumo, do cidadão-néscio, indisciplinado e pouco virtuoso, que apenas assume a matéria (prakrti) e a realidade externa como o único caminho possível a ser trilhado.

A Metapolítica é a via que nos libertará das correntes ideológicas dos últimos séculos, pois ela é que apela à especulação filosófico-política, ao contrário do aposteriorismo, da unipolaridade e das tensões políticas entre esquerda e direita. O seu objetivo é, a partir do ponto fundamental da doutrina das duas naturezas, superar as adversidades através da transgressão das teorias unilineares, abraçando assim a concidentia oppositorum: a união dos princípios comuns por via da pluridimensionalidade do símbolo, a única substância capaz de solidarizar os aparentes pontos heterogéneos presentes na política, vinculando-os a uma realidade última que comporte em si a unificação entre o elemento material e espiritual, promovendo a abertura devida para a theosis: algo que a objetivação positivista da ciência, que rege e direciona os elementos políticos atuais, não é capaz de nos dar, pois o seu modelo pragmático nada alcança além da mundividência na qual o sujeito se encerrou.

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